Se há herança pesada deixada pelo salazarismo, é esse exército de gente amorfa e profundamente reaccionária, nascida nos anos 40 e 50 do século passado, moldada silenciosamente pela insinuante propaganda do 'Estado Novo' e pelos seus aparelhos repressivos (pide e censura - sobretudo esta), todos abençoados pela 'Santa Madre Igreja Católica, Apostólica, Romana' liderada pelo irmão em Cristo, Gonçalves Cerejeira (hoje com direito a estátua no concelho de Almada e a tratamento de 'irmão em Marx' pela vereação comunista).
São reaccionários sem consciência de o serem.
E se há cidadão a quem se pode atribuir o posto de general desse exército, ele chama-se Aníbal Cavaco Silva.
Com efeito, o hoje venerando Chefe de Estado, viveu feliz em Moçambique onde não viu nem ouviu falar de mortos, feridos, amputados; conviveu sem protesto com a ditadura portuguesa com a mesma bonomia com que viveu na democrática Inglaterra; viajou na carreira 28 da carris sem nunca perguntar que edifício era aquele, na rua António Maria Cardoso, onde hoje fica um condomínio de luxo. Enfim, viveu 'normalmente'. E aí temos o protótipo do 'português suave' como inquilino do Palácio de Belém.
Hoje, na mensagem ao bom povo, a pretexto da promulgação da lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, fez, mais uma vez, questão de se exibir como um reaccionário, como um ultramontano. Tem, ao menos, a virtude da coerência. E tem, obviamente, a reeleição garantida com os votos da direita e com a trampolinice socretina. Que deus o(s) abençoe.
