
«Sócrates fez o que lhe era possível, dir-se-á. Não. Sócrates fez o que a consciência socialista (o que quer que isto seja) verberaria com impetuosidade. A extensão e os danos deste ciclo político podem pôr em causa a democracia. No nosso caso, o pouco que dela resta. O primeiro-ministro abriu caminho para o que de pior certamente advirá. E os putativos substitutos podem mesmo reclamar ainda mais penosos sacrifícios da nossa parte. Sócrates exacerbou as dimensões racionais da vida social. A sociedade portuguesa vive na ambivalência da inferiorização e da revolta. Quando ele diz que não vai aumentar impostos; que os ricos irão pagar mais; que as nossas penas e os nossos pesares serão minimizados, está a fugir da verdade a sete pés. A associação da ética republicana (de que tanto fala), com a assunção da linguagem dos factos, distingue a honra e a decência da trapalhice e da ambiguidade. José Sócrates, que arrastou consigo um pesado descrédito para o PS, conjugou a sua debilidade ideológica com uma insaciável sede de poder - que percorre, invariavelmente, aqueles que são passíveis de variações consideráveis.»
Baptista-BastosDN