Não sei nem quero saber quantos exemplares foram vendidos dos últimos livros de Miguel Sousa Tavares ou de José Rodrigues dos Santos, de José Saramago ou de António Lobo Antunes.
Sei - e fico triste por saber - que a 1ª edição de «O Livros dos Guerrilheiros», narrativas de José Luandino Vieira, tem uma tiragem de 2000 exemplares.
É que me custa que uma prosa (ou poesia?) de tão grande qualidade passe, silenciosa, por nós para morrer cheia de pó, nas prateleiras do esquecimento.
A título de aperitivo, aqui deixo um pequeno extracto:
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«Cantarei o herói, o que sempre exemplificou seu povo, vida e morte e luta, o dos cinco combates. Mas quero depois esquecer tudo, não vou de reinventar a verdade. Tem documentos, papéis passados e guardados, recebidos nas mãos de um jornalista, um mulato oxigenado de sotaque português, na estrada que de Benguela sobe na Serra da Xicuma, naqueles dias ímpios de 75, quando nossa pátria, acantonada num quintal, era só de bandeira e hino.
E se num documento podemos duvidar (se era para filme, tem truque de cinema), já o outro é fidedigno, sagrado: uma poesia, letra de absoluta verdade. Porque águas profundas são as palavras dos poetas; e mesmo se dão de transbordar, é para fazer capopas onde que pode se beber a sabedoria.»