domingo, 11 de outubro de 2009

UM IMENSO ADEUS


«"A nossa fatalidade" - escreveu Antero - "é a nossa história", e ao proclamá-lo, numa das "Conferências do Casino", tinha diante dos olhos os problemas do seu tempo, a angústia e a esperança que a realidade portuguesa da década de 70 suscitava num espírito como o dele. Pretendia libertar-se (generosa ilusão!), do peso morto do passado. Todavia, nem um indivíduo, nem um povo se libertam jamais inteiramente do passado: as experiências pretéritas estão presentes em nós, condicionam e circunscrevem a nossa acção criadora de porvir. De modo que ignorar o passado significa torná-lo mais presente e actuante do que se desejaria. E, de caminho, também mais perigoso porque velado... Apenas o conhecimento tão claro quanto possível das forças que condicionam o evoluir da sociedade e das classes que a constituem, - sim, apenas esse conhecer tão profundo e lúcido quanto possa ser -, nos fornece instrumentos de libertação dos "espectros", - como diria A. Sérgio -, que vindos de outrora, de nós exigem mais do que, homens de hoje, podemos e devemos conceder.».
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JOEL SERRÃO