"A extrema-direita cresce por muitas razões. Mas a comunicação social, e em especial as televisões, têm dado um forte contributo. Não é por falarem dela. Muito menos por falarem dela quando representa quase um quinto dos eleitores. É porque lhe dão um destaque desproporcionado – Ventura tem, quase todos os meses, mais tempo de antena televisivo do que o líder do maior partido da oposição.
As televisões são negócio. Depois de muita exposição, o grotesco normaliza-se e deixa de funcionar. A gritaria de Ventura está a ficar repetitiva. A tendência é procurar produtos novos mais impactantes, dando-lhes, também a eles, um destaque desproporcionado que os vai amplificando e banalizando. Não é jornalismo, é audiência. São coisas diferentes porque, como aprende qualquer jornalista, interesse público não é o mesmo que interesse do público.
A verdade é que as televisões preferiram umas dezenas de delinquentes nazis a muitas dezenas de milhares de democratas. Claro que, depois, organizam-se muitos painéis de debate para perceber o crescimento da extrema-direita. Mas não vale a pena perguntarem como isto acontece, quando mais do que cúmplices, são promotoras. E o efeito mais perverso nem é o da promoção. É o prémio. Na sexta-feira, foi dado um recado a quem esteve naquele desfile: a utilização pacífica e feliz dos instrumentos democráticos é pouco telegénica. A violência é que compensa. E estes movimentos já perceberam como pôr o “sistema” que tanto fingem criticar a trabalhar para eles. Há que saber morder o cão quando as câmaras estão por perto."
Daniel Oliveira (Expresso)
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"A Comunicação Social, em geral, e as televisões em particular, decidiram que o espetáculo mais interessante, informativo (e até formativo) foi o fornecido por um grupo de fascistas palermas no Largo de São Domingos. Ao que parece passavam-se outras coisas, na cidade e no mundo, mas aquela foi destacada como se dela dependesse o nosso futuro coletivo"
Henrique Monteiro (expresso)