terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

(A)VENTURA EM OLHÃO

A agressão a um jovem imigrante nepalês, feita por um grupo de jovens portugueses racistas e xenófobos, não aparece do nada. Há um discurso político que se repete à exaustão e que descreve estes imigrantes como personae non gratae, pelo que a existência de pessoas que se sentem no direito de os tratar como não-humanos é uma consequência desse discurso.

"Revolve-me as entranhas quando comparam a nossa antiga emigração à nossa atual imigração", afirmou André Ventura, na última Convenção do Chega. Num passado recente já tinha dito que "a imigração islâmica é um perigo para Portugal, é um perigo sobre as nossas mulheres e sobre as nossas cidades". E, em Lisboa, o deputado municipal do Chega Bruno Mascarenhas acusou os imigrantes que "invadem o país e a nossa cidade, aproveitando-se da nossa boa vontade, e ainda abusam porque conseguem que lhes paguemos casa, comida e ainda damos dinheiro".

Qualquer pesquisa num motor de busca com apenas duas palavras (Chega e imigrantes) nos revela de imediato de que é feito este partido. Não é o que foi dito uma ou outra vez, é um discurso que se repete como estratégia para ganhar votos pelo medo, promovendo um discurso de ódio que pode terminar, como aconteceu agora em Olhão, em violência física. Sem surpresa nenhuma, porque a violência é a marca de água da extrema-direita.

Paulo Baldaia (DN)