sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

DO PALMA CAVALÃO AO TAVARES PORCALHÃO

Palma Cavalão, personagem inesquecível de Eça de Queiroz, passou à História como protótipo do jornalismo escandaloso, praticado por gente imoral e, muitas vezes, corrupta.

'Canalha', 'vil bolinha de matéria pútrida', 'chouricinho de pus' foram palavras e expressões que Eça utilizou para definir o Palma Cavalão, traste muitas vezes obrigado a descer o Chiado em passo de corrida para escapar a umas justificadas bengaladas.

Para nosso desconforto, Eça morreu e nenhum outro romancista português conseguiu substituí-lo na ingente tarefa de retratar a sociedade portuguesa sem dó nem piedade. É uma pena.

Bom, mas se Eça morreu, as figuras, figurinhas e figurões que ele retratou tão primorosamente continuam vivas, espalhadas pelas cidades, pelas serras e pelos Chiados deste 'deplorável Portugalório'. Exemplos não faltam, mas, hoje, fiquemos pelo caso paradigmático do Tavares Porcalhão. 

Com um fundo de comércio prestes a esgotar-se - o chamado 'caso Sócrates', que lhe deu fama e proveito ao longo de mais de uma década - o Tavares Porcalhão farejou um outro filão para garantir os fluxos financeiros e um lugar de destaque no 'Big Brother dos Famosos' em que se transformou a comunicação social: mergulhou de cabeça na pocilga cheguista e fez da normalização dos aí residentes a nova nobre causa da sua vida. E eis que temos as páginas do jornal das mercearias Continente e a pantalha da Sic-notícias cheias de apelos pungentes, com a assinatura do Tavares Porcalhão, a favor da igualdade, em matéria de direitos políticos, de pessoas e de bichos que entre nós são particularmente considerados na restauração da Mealhada e nas feiras do fumeiro.

Palma Cavalão, esse 'canalha', 'vil bolinha de matéria pútrida', 'chouricinho de pus' , fez escola e deixou seguidores. A bengalada caiu em desuso (graças a Deus!). Sorte do Tavares Porcalhão.