sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

AVISO AOS INCAUTOS: CUIDADO COM O CONTRABANDO LITERÁRIO

Há muito tempo que não lia um livro tão mal escrito. Ou com mais rigor: há muito tempo que não lia vinte e cinco páginas tão mal escritas de um livro que logo arrumei na prateleira das coisas inúteis.
Da prosa atabalhoada cito: E apesar de tudo porque não é claro porque não. (pág. 24); Lembro-me sempre de uma vez ter chegado do campo à minha garagem onde costumava deixar o meu carro e a garagem estava cheia e mais do que cheia, foi por ocasião do salão do automóvel, mas disse eu que hei de fazer, bem disse o homem que tomava conta da garagem tenho de ir ver e depois voltou e disse em voz baixa, há aqui um canto e eu pus nesse canto o carro de monsieur o membro da academia e vou pôr o seu ao lado do dele os outros podem ficar lá fora e é de facto verdade até numa garagem um membro da academia e uma mulher de letras têm precedência até mesmo sobre milionários e políticos, têm precedência, é absolutamente inacreditável mas têm...(pág 25).
Sempre me constou que Gertrude Stein escrevia mal e que, sistematicamente, recorria aos bons ofícios de amigos (onde se incluía Hemingway) para operações plásticas da prosa, antes da publicação. Confirmei agora e a lição custou-me doze euros. Olha, paciência...
E uma nota final: como é que a Relógio d'Água, uma editora prestigiada, edita um pastelão destes?