quarta-feira, 19 de novembro de 2014
"Bilhetes pr'á bola. Peão ou bancada"
Longe, longe, longe vão os tempos em que, menino e moço, me levavam a Évora para ver o Lusitano- Benfica.
A viagem, marcada quando se conhecia o calendário da época, era preparada ao pormenor: saída de Beja às dez da manhã, piquenique nas fontes junto à estrada, poucos quilómetros antes da cidade do meu (futuro) amigo Antunes da Silva, lá pelas onze horas. Na cidade, carro estacionado junto das muralhas para evitar a balbúrdia e facilitar a saída para o regresso. Caminhada para o Campo Estrela para ver as defesas do Costa Pereira e do Vital, os golos do Zé Águas e do Zé Pedro, a sabedoria do Germano, a arte do Santana, a pose imperial do Coluna. Uma festa.
Nas imediações do Campo Estrela, o encanto dos excitantes pregões dos biscateiros de domingo, micro-especuladores em busca de uns cobres, conhecidos por candongueiros: "Bilhetes pr'á bola. Peão ou bancada".
Os tempos mudaram. Os meus ídolos estão todos mortos e foram substituídos por mercenários do pontapé. Já os candongueiros dos "Bilhetes pr'á bola. Peão ou bancada" foram dizimados pelas tecnologias da 'bilhética' e substituídos por ministros que enviam emails aos amigos brancos, pretos e amarelos a perguntar: "Bilhetes pr'á bola. Custo zero. Bancada central ou camarote"?
Outros futebóis...