quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O BUSTO


Foi há anos, há muitos anos e eu estive lá. Eu e mais setenta e oito parolos. Cabíamos todos no largo de Alcântara e sobrava espaço para o trânsito fluir normalmente. O general Ramalho Eanes, que ao tempo patrocinou o regresso do 'venerando' chefe de Estado do 'Antigo Regime' e, anos depois, apoiaria a candidatura da cavacal figura à Presidência da República, nesse dia, certamente, sorriu.
E, enquanto Eanes sorria, eu ia fixando os rostos dos manifestantes. Não me lembro de ter visto por lá um tal Pedro Filipe Soares (o que se compreende - o pequeno estava a mudar as fraldas). Mas também não vi Jerónimo de Sousa que, então, já era um homenzinho.
Quando, hoje, testemunho a indignação de certas alminhas que contestam a presença do busto do Cabeça de Abóbora, em exposição temporária, nos corredores da Assembleia da República (como se as páginas negras da história de um país pudessem ser arrancadas e levadas pelo vento...), só me apetece contar-lhes aquela anedota do marido que usou o busto do Napoleão, ao lado do tubo de vaselina, para apanhar a mulher desprevenida e de costas. Ou, em alternativa, gritar-lhes um sonoro e letal "fuck you!".