
«Vi há dias uma reportagem sobre o 'social' da Feira do Livro de Lisboa: oito 'escritores' autografavam livros. O que aquilo tinha de curioso é que nenhum dos oito, de facto, é escritor: são, sim, autores, ou nem isso, de livros publicados - o que é diferente, bem diferente. Dois pertenciam a um grupo de cómicos, assinando livros de crónicas -sem graça alguma, aliás; outro assinava um livro de letras de música, outro era um político, assinando um livro de campanha eleitoral; dois outros assinavam livros de auto-ajuda e outra um livro de pensamentos supostamente interessantes sobra a sua vida. Também a D. Carolina Salgado, quando teve de declinar a sua profissão perante o juiz do caso 'Apito Dourado', revelou, sem hesitar: "Escritora". No género literário dela, aliás, já criou discípulas, quer na origem da pulsão literária quer no método de escrita, que consiste em ditar a sua palpitante vida para o gravador de uma 'reescritora' profissional.»
Miguel Sousa Tavares
'Expresso'