sexta-feira, 11 de julho de 2025

O BUSTO DO MARUJO

 

O herói e a rotunda

A marcha do almirante Gouveia e Melo para Belém, agora iniciada, irá reduzi-lo rapidamente à condição de um busto de gesso constitucional

Como um doente de malária, Portugal sofre de acessos periódicos: uma febre de desespero que, no seu delírio, lhe evoca invariavelmente a miragem de um redentor. Com o Estado em chagas e a política num pântano, a nação, farta de uma liberdade desordeira, deixa de querer um governante: implora por um Licurgo. É o eterno e patético fantasma sebastianista: a busca por um homem de farda, de queixo firme e — pormenor essencial — de biografia convenientemente curta, que venha finalmente oferecer o mais simples dos pactos – a troca da liberdade, essa tarefa insuportável, pelo alívio da obediência cega.

Paulo Sousa

Público

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