Sim, nós sabemos. Todos nós sabemos que, na cerimónia de abertura do Mundial de Espanha, ele disse "e agora entram as danças sevilhanas da Catalunha"; ou que, no Mundial de 94, afirmou que um estádio tinha "uma humidade relativa superior a 100%". E que falou de Maradona, "26 anos, argentino, nascido em Buenos Aires, joga com a bola nos pés", que saudou Cândido Costa como "um jogador que joga bem pela esquerda, pela direita e pelos flancos", que enalteceu Vítor Baía como "provavelmente, o melhor jogador do Mundo e da Europa", que falou num "golo sexual" do Boavista, que disse que a selecção do Mali tinha "um futebol com perfume selvagem e com um odor realmente fresco", que descreveu "Hélder a romper... mas a altura exacta em que devia ter aberto", e que gritou "Épaaaahhh, Silvino a levar as mãos às bolas!!", e que caracterizou Jardel como "um jogador com um tempo de salto de quase 70cm" ou Giggs como "um jogador que remata bem, do meio-campo para a frente", ou ainda "Kenneth Anderson, 1 metro e 94 de golo". Sabemos que disse, ai pois disse: "Steeeeeeeveeee Harknesssss... jogador possante e forte ao nível físico... gosta de passar férias no Algarve... e o seu actor favorito é Michael Caine", "Totiiiiiiiiii... é um estilista" ou "António Veloso, 1,70m, pai de família, vive em Almada"Sim, nós sabemos. Vimos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar. Sabemos de tudo isto. Ouvimo-lo dizer "neste estádio ouve-se um silêncio ensurdecedor", ouvimo-lo dizer que "a selecção não jogou bem, nem mal, antes pelo contrário", ouvimo-lo a gritar "remate rasteiro... por cima!", a caracterizar Beckenbauer como "um grande libero", "um senhor de futebol", que ganhou "o Campeonato Mundial da Europa de 1974". São dele, só dele, mais nenhum, as frases imorredouras "um passe para a zona de ninguém, onde realmente não estava ninguém!", "jogador a trabalhar muito bem debaixo das pernas do adversário", "e as palmas saem de cima para baixo" ou "fica na retina um cheiro de bom futebol". Que ninguém, absolutamente ninguém, tenha a ousadia de levar-lhe a palma e a autoria do histórico, do épico, "podemos ver que o público está vestido", do não menos histórico e épico "esférico para um lado, bola para outro!" e ainda, e sempre, "Costinha é excelente nestes lances porque a bola está morta e passa a estar viva!"
LER MAIS: https://www.dn.pt/cultura/gabriel-alves-simplesmente-enorme-16959478.html