Prevenção primeira
Algumas prevenções prévias, desculpem a repetição. A primeira é que tenho a convicção de que os comunistas portugueses desejavam ardentemente que nunca tivesse havido uma invasão russa da Ucrânia. Por todas as razões, a principal é que percebem que, nas suas ambiguidades, acabam por ficar no lado russo e isso é devastador para a acção política do PCP, já muito fragilizado pelos resultados eleitorais e com escassas perspectivas de crescimento. Vou ainda mais longe: muitos militantes comunistas estão sinceramente afectados pelas violências da guerra, que eles sabem serem resultado da invasão e serem na sua maioria responsabilidade dos russos. Podem não dizer com clareza, mas sabem. E sabem os estragos para o que sobra da sua causa, esta guerra imperialista com objectivos de conquista territorial e de hegemonia regional. Hegemonia regional limitada, mais pela China do que pelos EUA.
Prevenção segunda
Segundo, penso igualmente que o PCP não tem qualquer afinidade política, nem de perto nem de longe, com Putin. Mas o mesmo não se pode dizer de algumas das suas intenções proclamadas em nome do nacionalismo russo, mas que o PCP traduz em nome do comunismo. É o caso da ressurreição da URSS, e do confronto com aquilo a que chamam imperialismo americano. Esta é a armadilha em que o PCP caiu, pensar que a Federação Russa com Putin vai ser uma barreira para o mundo unipolar. Bem pelo contrário, os resultados já efectivos é ter reanimado uma NATO em crise, e criar condições na opinião pública para uma política de conter a Rússia, aumentando os armamentos e as políticas de defesa mais agressivas."
José Pacheco Pereira
Sábado