domingo, 4 de dezembro de 2022

GOZAR COM QUEM REALMENTE TRABALHA



A discussão sobre o salário de Paulo Raimundo, o novo Secretário-Geral do PCP, e de outros funcionários do Partido Comunista, tem gerado uma onda surpreendente de chacota. O salário de cerca de 750 euros (líquidos) indignou muitos, do anónimo nas redes sociais, às grandes estrelas do jornalismo e do humor.

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 Em Setembro, o jornalista do Público, João Pedro Pereira, criou um Google Doc para que, de forma anónima, jornalistas em Portugal pudessem preencher informação sobre o seu salário (incluindo anos de trabalho, meio de comunicação e extras, como seguros ou subsídios).

O resultado só é surpreendente para quem desconhece o estado dos salários indigentes e a precariedade no jornalismo português. É assim há mais de 20 anos. A média não ultrapassa os mil euros, muitos já incluindo subsídios ou isenções de horário. Um fotojornalista na Global Media (dona do DN, JN, TSF) com mais de 20 anos de carreira faz 720 euros. Há jornalistas na Cofina (dona do Correio da Manhã) com mais de 15 anos a ganhar 762 euros; um na TSF a fazer 870 (já com subsídio de refeição). Editores na CNN a fazer 944 euros. No Público, jornalistas com 6 a 10 anos de casa, recebem uma média de 950 euros limpos.

Quem parece ganhar "bem" (por comparação) são os editores (não há informação sobre directores), e muitos vieram para as redes sociais gozar com o salário dos funcionários do PCP. Quando os editores, directores e as estrelas do jornalismo português se deslocam para as mesas espelhadas do comentariado nacional (na televisão ou no Twitter) certamente não se cruzam todos os dias nas redacções com trabalhadores precários, a recibos verdes, contratos a termo, longas horas no lombo por causa da "falta de pessoal" que, feitas as contas, levam para casa 800-900 euros.

Raquel Ribeiro 

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