Gaspar reduziu a nada a margem de manobra do Governo em relação ao ultimato da troika. Assumiu uma imposição externa como uma escolha nacional livre. Teórico orgânico da União Económica e Monetária (UEM), Gaspar foi entusiástico defensor de todos os erros conceptuais, que a ideologia monetarista transformou em programa; desde a contradição nos termos de uma "austeridade expansiva", passando pela idolatria do limite mágico dos 90% da dívida pública, que não passava de um erro de cálculo dos seus autores (Reinhart e Rogoff), subestimando o impacto desastroso das medidas de austeridade sobre a economia real (como ficou provado pelo falhanço em relação a todos os indicadores: do desemprego, ao défice, passando pela dívida). Sobretudo, Gaspar é o rosto (de que Passos constitui a mera sombra) da distorcida visão do mundo de uma UEM que sempre diabolizou o Estado e as políticas públicas, olhando para os mercados com angélica benevolência.
Viriato Soromenho Marques
DN