terça-feira, 29 de novembro de 2016

UMA JANELA PARA O UNIVERSO


Comentário semelhante, mas mais extenso, ao que fiz noutra página após
a visita guiada de um grupo informal, em que ontem participei, ao
arquivo e biblioteca de José Pacheco Pereira. "Um acervo
extraordinariamente vasto e diversificado, que tem requerido um
trabalho enorme, gosto pela pesquisa, muita paciência, tempo, saber -
e dinheiro investido em instalações, aquisição de espécies, viagens,
esforço para convencer quem o apoie na recolha e classificação de
livros, imprensa e outros materiais (espólios, cartazes, folhetos,
propaganda, publicidade, etc), e também quem se resolva a fazer
doações de documentos cuja importância nem sempre é logo evidente. Um
conjunto de enorme valor para investigadores e para a História. Não
conheço nada de comparável, sem objectivos comerciais, sem procurar
nem ter subsídios, sem sequer lhe ter sido possível constituir uma
fundação ou o contributo das existentes, que eu saiba. Mesmo passando
ali muitas horas, mesmo apenas quanto aos livros reunidos já
catalogados, digitalizados ou ainda não, fica-se com uma ideia geral e
superficial da tarefa feita ou a fazer. Algumas reportagens e
entrevistas sobre tudo aquilo não me permitiam antever a imensidade.
Quase não existe nenhum assunto que José Pacheco Pereira despreze
nessa missão gigantesca, quase impossível, e até talvez de uma certa
solidão, apesar de muitas dezenas de pessoas não remuneradas que o
auxiliam em buscas, recolha e transporte. Fez-me agora lembrar o que
alguns cineastas disseram de Henri Langlois: o dragão que guarda
muitos dos nossos tesouros (documentais, entenda-se). Parece um
exagero, mas não é, pois esse esforço não assenta em mecenas, em
organizações políticas ou em associações culturais. E Langlois dirigia
nada menos do que a Cinemateca Francesa, à qual o Estado não era
alheio. Não é preciso invocarmos aqui Jorge Luis Borges, Umberto Eco
ou Alberto Manguel a propósito deste tipo de janelas para o universo;
mesmo nós, visitantes comuns e meros cidadãos, ficamos espantados, no
melhor sentido do termo, com aquele sem-número de documentos
dispersos, mas não unicamente acumulados e sim em permanente
ordenamento e tratamento, por vários locais da tranquila vila da
Marmeleira (Rio Maior), em regra salvaguardados informaticamente e
cuja "work in progress" já começou a reflectir-se em edições e
exposições, e a propiciar outras. É a minha opinião, mas não só
minha. "


Francisco Belard
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