quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

PRESIDENCIAIS

O MENINO MARCELO
Marcelo Rebelo de Sousa está para a gravitas como Jorge Jesus está para a gramática. Apesar do cognome salazarento (“Professor”), Marcelo não tem o porte senatorial que é desejável num político.
(...)
Não é um político ganhador, nunca governou, não tem pedigree histórico de oposição ao Estado Novo, e passou as últimas décadas a transformar a política num anexo da stand-up comedy. Sim, as marcelices televisivas encostaram-no à leve figura do comediante e não à figura grave do político. Aos olhos dos portugueses, Marcelo está mais próximo de Herman do que de Soares ou Cavaco. Aliás, a sua campanha está a ser apalhaçada. Ele é a piada sobre agências funerárias. Ele é a discussão sobre os pés de Tino de Rãs. Ele é o vazio político quase cómico: como é que um político pode fazer carreira sem nunca defender ideias políticas?
 Vivemos e continuaremos a viver tempos de ferro e fogo, tempos que exigem coragem naquilo que se diz e faz. Ora, Marcelo não foi forjado para isso, aliás, não esteve na forja. Marcelo não é ferro, é plasticina. É o cortesão que se molda a tudo. Quer ser o gajo porreiro quando os tempos não estão para porreirices.
O porreirismo de Marcelo será um problema em Belém, porque ninguém levará a sério um homem que é ontologicamente incapaz de acreditar seja no que for. De resto, já é consensual que Marcelo é o troca-tintas ou vira-casacas. Faz lembrar aquele menino que diz ao pai que é do Benfica e à mãe que é do Sporting e ao avô que é do Porto; é como aquela menina que diz à avó que acredita em Deus, embora na escola seja incapaz de resistir ao engraçadismo ateu, só porque sim, só porque é giro, só para evitar um confronto. É este o tipo de pessoa que queremos à frente do país numa altura tão complicada? Marcelo em Belém será mais um prego no caixão do regime, até porque será eleito com abstenção recorde. E agora só vejo uma forma de contermos os estragos: esta corrida presidencial não pode continuar a ser uma comédia que é em si mesmo um desrespeito pela democracia e pelos portugueses; ou seja, se é impossível derrotar o bobo da corte, não é impossível levá-lo à segunda volta. O menino Marcelo tem de sofrer um bocado, tem de encontrar um pingo de gravitas.
Henrique Raposo
EXPRESSO