
CAMUS, CINQUENTA ANOS DEPOIS
No dia 4 de Janeiro de 1960 morria, num acidente de viação, o escritor francês de origem argelina Albert Camus. Tinha 47 anos e tornara-se três anos antes um dos mais jovens laureados com o Prémio Nobel da Literatura, por causa de uma obra literária que se tornara única no panorama da literatura do pós-guerra pelas suas ressonâncias humanistas.
10 Jan 2010 - 15:00
M/16 ANOS
SALA ALMADA NEGREIROS
ENTRADA LIVRE
Fora amigo de Sartre, mas cortara com ele por graves divergências políticas: repugnavam-lhe tanto as ditaduras de direita como as de esquerda e não hesitara em erguer a voz a favor de minorias étnicas ou religiosas. Ligou-se à Resistência durante a guerra e dirigiu depois o jornal Combat, tornando-se, nas palavras de François Mauriac, a “referência da sua geração”.
O absurdo do mundo e da vida tornara-se o núcleo da sua obra e foi esse tema que ocupou a chamada “trilogia do absurdo”: a ficção O Estrangeiro, o ensaio O mito de Sísifo e a peça de teatro Calígula. Este dia dedicado à evocação da obra de Albert Camus, cinquenta anos depois da sua morte, dá voz a excertos destes três textos literários fundamentais, relembrará a polémica com Sartre e encerra com a projecção do filme realizado a partir de uma encenação da peça Les justes, realizado a partir de uma peça de Camus.
Consultor para programação literária João Paulo Cotrim
PROGRAMA
15:00 CAMUS E SARTRE: EVOCAÇÃO DE UMA AMIZADE
Leitura do artigo de Sartre publicado depois da morte de Camus
por António Mega Ferreira
“Ele representava neste século, e contra a História, o herdeiro actual desta longa linha de moralistas cujas obras constituem o que há talvez de mais original nas letras francesas. O seu humanismo insistente, estreito e puro, austero e sensual, travava um combate duvidoso contra os acontecimentos maciços e disformes deste tempo. Mas, inversamente, pela firmeza da sua recusa, ele reafirmava, no coração da nossa época, contra os adeptos de Maquiavel, contra o bezerro de ouro do realismo, a existência do facto moral.”
15:30 O ESTRANGEIRO (1942)
Excertos lidos por Pedro Lamares
16:15 O MITO DE SÍSIFO (1942)
Leitura de O Homem absurdo, O Donjuanismo e O mito de Sísifo
por António Mega Ferreira
17:00 O EXÍLIO E O REINO (1957)
Leitura de “Jonas”
por Nuno Carinhas
17:45 Intervalo
18:00 LES JUSTES (1949)
Projecção do filme realizado a partir da encenação de Guy-Pierre Couleau, Athénée, Théâtre Louis-Jouvet, Paris 2007
Em Fevereiro de 1905, em Moscovo, um grupo de terroristas, pertencendo ao partido socialista revolucionário, organiza um atentado à bomba contra o Grão-Duque Serge, tio do Czar. Este atentado e as circunstâncias singulares que o precederam e seguiram constituem o tema dos Justos. Tão extraordinárias que possam parecer, de facto, algumas das situações desta peça, não obstante, elas são históricas. Isto não quer dizer, aliás vê-lo-emos, que Os Justos sejam uma peça histórica. Mas todos os personagens existiram realmente e comportaram-se como o descrevo. Tratei apenas de tornar verosímil aquilo que já era verdade.
Até mantive ao herói dos Justos, Kaliayev, o nome que foi realmente seu. Não o fiz por falta de imaginação, mas por respeito e admiração pelos homens e mulheres que na mais impiedosa das tarefas, não puderam ficar curados do seu coração. Foram feitos progressos desde então, é verdade, e o ódio que pesava sobre estas almas excepcionais como um sofrimento intolerável tornou-se um sistema confortável. Mais uma razão para evocar estas grandes sombras, a sua justa revolta, a sua fraternidade difícil, os esforços desmedidos que fizeram para concordarem com o homicídio – e para deste modo afirmar onde está a nossa fidelidade.
Albert Camus