domingo, 19 de outubro de 2008

VIVER NORMALMENTE

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Antigamente, isto é, no 'Antigo Regime' (para usar a linguagem politicamente correcta) viver 'normalmente' significava vestir com orgulho a farda da Mocidade Portuguesa (também conhecida por 'Bufa') e desfilar garbosamente no 'Dia da Raça'; passar pela Universidade sem o incómodo da participação na vida agitada das associações de estudantes; ser feliz em Moçambique, ignorando olimpicamente os mortos e os feridos da guerra colonial; fazer um doutoramento na 'democrática Inglaterra' sem notar diferenças essenciais entre a democracia inglesa (mesmo com a repressão sobre o IRA) e a 'democracia orgânica' cá da parvónia; voltar à Universidade como professor sem rasto de solidariedade com os Profs. Lindley Cintra, Pereira de Moura e muitos outros.

Depois do 'vinte e cinco do quatro' (para usar a linguagem preferida de uma certa casta), viver normalmente significa mudar de carro, fazer rodagens, chegar a presidente de partido sem saber ler nem escrever, percorrer os caminhos abertos por eaníssima figura e chegar a Primeiro para gerir fundos europeus e endividamento dos 'populares capitalistas' para as reprivatizações correctoras dos desvarios de setenta e cinco, recolher aos abrigos em tempos de anunciadas 'vacas magras', reaparecer oportunamente e chegar a Presidente à segunda tentativa, passear na Madeira sem olhar para o edifício da Assembleia Regional, vetar leis de acordo com os poderes constitucionalmente estabelecidos.

Enfim, viver normalmente é isto e é um direito que assiste a todos os portugueses.
Quem quiser, pois, que viva 'normalmente', mas que nos poupem aos discursos sobre os hábitos das vaquinhas e aos considerandos sobre a 'lei do divórcio'.


PM